Rio de Janeiro, 14 de março de 2012.
Exmo. Senhor Prefeito da Cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro c/c: Senhor Luiz Henrique Sanson – Chefe de Gabinete
Senhor Alessandro Sansão – Secretário Municipal de Transporte
Meu nome é Fernando Diniz, presidente da TRÂNSITOAMIGO, Associação de Parentes, Amigos e Vítimas de Trânsito.
Tomo a liberdade de fazer este relato por si só explicativo e que tem o propósito de evidenciar o descaso/desconsideração das autoridades da cidade do Rio de Janeiro com o cidadão comum.
Procurarei ser bem claro e sem formalidades.
Desde o início de novembro de 2010 (05/11), tentei um contato com o Prefeito Eduardo Paes, (a quem tive o prazer de receber na minha residência na Barra enquanto deputado federal) com a finalidade de apresentar-lhe o projeto para criação de um Memorial das Vítimas de Trânsito na cidade do Rio de Janeiro.
A intenção era conseguir a aprovação bem como a autorização de início de construção a tempo de celebrarmos o Dia Mundial em Memória das Vítimas de Trânsito em novembro de 2011 já no espaço do Memorial, e também pelo fato de 2011 ter sido escolhido como o ano do início da “Década de Segurança no Trânsito” 2011 – 2020, consequência da Conferencia Ministerial Global de Segurança Viária, realizada em novembro de 2009 em Moscou, referendada por mais de 190 países, inclusive o Brasil.
Foram inúmeros emails, telefonemas e até carona num encontro do Deputado Hugo Leal com o Prefeito no início de 2011.
O Deputado Hugo Leal a pedido meu levou o projeto “conceitual” ao Prefeito Eduardo Paes e disse-lhe: o Fernando Diniz quer lhe apresentar um projeto para a criação de um Memorial de Vítimas de Trânsito a ser erguido na cidade do Rio de Janeiro e me retornou dizendo que o Prefeito gostaria que eu lhe levasse o projeto pronto e definido para aprovação. Assim foi feito. De forma célere buscamos parceiros que de forma solidária desenvolveram sem ônus para a TRÂNSITOAMIGO um bonito projeto para o Memorial das Vítimas de Trânsito.
Da mesma forma buscamos parceiros que, também de forma solidária, comprometeram-se em arcar com todos os custos oriundos da construção do Memorial, eximindo desta feita a Prefeitura de quaisquer ônus decorrente desta implantação.
Com o projeto detalhado em mãos e os custos de construção garantidos, reiniciamos a nossa “via crucis” em busca de um espaço na agenda do Exmo. Prefeito para consolidarmos os detalhes finais. Mais uma vez, não logramos êxito! Novamente inúmeros emails, telefonemas e finalmente um agendamento com o Prefeito para o dia 19 de agosto de 2011 às 16:00 hs. De posse de todo o material apresentei-me no prédio da Cidade Nova pouco antes do horário marcado. Aguardei por um longo tempo e, finalmente, recebi a informação de um assessor de que o Prefeito pedia desculpas, mas estava se deslocando às pressas para o aeroporto internacional para viajar a Madrid para o “Encontro com a Juventude”. Foi-me sugerido na ocasião, ser recebido pelo chefe de gabinete do Prefeito, Sr. Luiz Henrique Sanson, o que de fato aconteceu.
Expliquei-lhe os motivos de minha presença, os meus anseios, a minha paciente espera nesta longa caminhada e os motivos que me levavam a buscar a aprovação da construção de um Memorial de Vítimas de Trânsito: a morte prematura de meu filho Fabricio em uma tragédia de trânsito na Avenida das Américas, Barra da Tijuca, Rio de Janeiro em março de 2003 e o aumento do número de vítimas decorrente da direção irresponsável.
O Sr. Luiz Henrique Sanson comprometeu-se a apresentar ao Prefeito Eduardo Paes o nosso pleito, logo após o seu retorno de Madrid.
1Mais uma vez inúmeros emails, telefonemas e a informação de que uma reunião estava agendada para 25 de outubro de 2011, desta vez com o Secretário de Transporte do Município do Rio de Janeiro, Sr. Alessandro Sansão, em Botafogo??????
Desta vez, com o Secretário de Transporte, relatei mais uma vez os motivos de minha presença, repetindo pormenorizadamente tudo o que havia dito e conversado com o Chefe de gabinete do Prefeito.
Deus sabe quantas vezes falei da morte do meu filho!!
Ao fim da reunião, depois de relatados todos os detalhes do projeto, o Sr. Alessandro Sansão me perguntou:
“É este o meu dever de casa”?
Eu lhe respondi: Sim!
“Deixa comigo”!!!!
Deixei mais uma vez por conta das autoridades, daqueles que estão no topo da pirâmide na hierarquia da Prefeitura, e no que deu? Em nada, absolutamente nada!
Quantos telefonemas após este último encontro e sempre a mesma resposta: ”senhor, ainda não temos uma resposta ao seu pleito”.
Desisti de ligar. Mas não desisti e não desistirei dos meus propósitos: Erguer na cidade do Rio de Janeiro um Memorial das Vítimas de Trânsito.
Morrem no Brasil mais de 60.000 pessoas/ano, deixando ainda um rastro de mais de 600.000 feridos/ano dos quais, mais de 150.000 com lesões irreversíveis, tudo isto ao custo “irrisório” de R$ 40 bilhões de reais/ano. Caso duvidem, perguntem ao IPEA, ao Ministério da Saúde, a Seguradora Líder que administra os recursos do DPVAT e que tem sua sede no Centro da cidade do Rio de Janeiro.
A sua cidade, Prefeito Eduardo Paes, contribui “generosamente” para o aumento da mortalidade no trânsito e a isto não podemos chamar de “cartão postal”.
Uma cidade por mais bela que seja não vive somente de belezas naturais, mas também da beleza contida no comportamento de seus moradores, na civilidade e nos desejados princípios de cidadania dos homens públicos.
Quando recolhido em meus pensamentos ou em conversa com familiares e amigos, fico a lembrar da minha empolgação com os seus primeiros passos e ações ainda como subprefeito da Barra. Sua destemida e arraigada investida contra a favelinha do fim da minha rua, a Coronel Eurico de Souza Gomes Filho culminou com a sua extinção e com o fim do comercio irregular e clandestino.
Confesso que mesmo sem ter sido um cabo eleitoral direto, agradava-me a iniciativa de buscar votos para quem mostrava ter os predicados necessários a um bom administrador. E assim foi por toda a sua trajetória política.
Hoje, suficientemente abastecido pelas inúmeras mazelas de nossa “cidade maravilhosa”, os descuidos com os logradouros públicos, a inobservância dos critérios mais óbvios de conservação e manutenção de ruas, calçadas, asfaltamento, iluminação etc.., com conseqüente gasto negligente do dinheiro público não nos resta senão a desesperança, o arrependimento e a frustração por uma ilusão dedicada no passado.
Mas eu sou apenas um, senhor Prefeito, meu filho Fabricio também era apenas um e hoje já não está entre nós, mas o número de vítimas de tragédias de trânsito, seus parentes e amigos são muitos, estão aí e estarão atentos aos descasos a que agora me refiro.
Não sei se seus colaboradores levaram ao seu conhecimento alguns dos argumentos que utilizei e que certamente despertariam ou aumentariam o interesse pela implantação do Memorial pretendido, a saber:
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– Encontro da Juventude em 2013 com a presença do Papa e visita ao Memorial para um ato religioso, – Copa das Confederações e Copa do mundo, – Olimpíadas 2016 e na seqüência as Paraolimpíadas.
É importante destacar que a grande maioria dos atletas que compõem as Paraolimpíadas é composta de jovens que foram afetados pela violência do trânsito. Seria de repercussão mundial a realização de um abraço coletivo dos atletas no Memorial com um culto Ecumênico com a presença de líderes de diversas religiões, mostrando para o mundo que esta cidade além de ter o melhor Carnaval, o melhor samba, também tem o Cristo Redentor de braços abertos para tantos excluídos e afetados por esta “epidemia” que é a violência sobre rodas.
Quero deixar registrado que a TRÂNSITOAMIGO recebeu várias ofertas de prefeituras próximas a cidade do Rio de Janeiro, sinalizando a interesse de abraçar a causa do Memorial.
Permanece, entretanto a intenção de erguer nesta cidade o Memorial das Vítimas de Trânsito, nesta ou em outra gestão, onde nós vítimas da violência de trânsito não precisemos mais peregrinar sem sucesso pelos corredores da administração pública municipal em busca de causa tão justa, mas sempre negligenciada.
Outras correspondências: carta ao Prefeito datada de 24/01/2011 e emails de 09/01/2012 enviadas ao Chefe de Gabinete e Secretário Municipal de Transporte, respectivamente, também não foram consideradas.
Informo que cópia desta carta estará sendo encaminhado para divulgação a todas as famílias vítimas de trânsito cadastradas do Rio de Janeiro e de demais Estados no Brasil bem como a todas as entidades/ parlamentares das diversas esferas ligadas à defesa da vida, jornais, revistas e redes de televisão.
Em tempo:
“A morte não é a pior coisa da vida. A pior coisa da vida é o que morre dentro de nós enquanto vivemos”.
Fernando Alberto da Costa Diniz
Pai de Fabricio Pinto da Costa Diniz, jovem falecido aos vinte anos de idade com mais duas amigas, Mariana e Juliane em tragédia de trânsito na Avenida das Américas em 1o de março de 2003, todos três sentados no banco de trás de um automóvel Peugeot conduzido de forma irresponsável por Marcelo Henrique Negrão Kijak, hoje foragido e procurado pela Interpol no mundo inteiro.
Fernando Diniz
Presidente