O que é impunidade? Terá ela paternidade?
Sim! Ela também é muito antiga, passou por muitos governos e se instalou na sociedade. Arrisco a afirmar que quase 180 milhões de brasileiros poderiam assinar a certidão, embora não admitam. Isso porque volta a prevalecer aquele velho ditado: “FILHO FEIO NÃO TEM PAI”! Ninguém quer assumir a sua parcela de responsabilidade pelo caos da educação e pelo desrespeito contumaz da ordem no Brasil.
Quando falo de educação, refiro-me aos conceitos de civilidade e cidadania tão amplamente destacadas, mas permanentemente desrespeitadas, quer seja pelo cidadão comum, quer pelas autoridades constituídas, não importando a ordem de precedência.
Infindáveis formas de desrespeito circulam nas diversas esferas da sociedade. Mas vou direcionar meu ataque para uma em especial. Uma que mata e fere de forma intensa e cruel. O trânsito e suas consequências.
O trânsito brasileiro já é um caso (grave) de saúde pública. Uma verdadeira epidemia como muitos especialistas já afirmaram mas incapaz de sensibilizar políticos, administradores públicos e senhores da lei.
Recentemente pude constatar algumas semelhanças entre a Índia e o Brasil, apesar da enorme diferença cultural e social.
Participei como palestrante do Congresso Anual da Organização Mundial de Saúde (OMS) em Pune, cidade da Índia, exatamente no período em que bombas explodiram em Mombaim. Neste país, com cerca de 1 bilhão e trezentos milhões de habitantes, tudo pode no trânsito. Não é difícil imaginar a ferrenha disputa por espaço nas ruas e estradas densamente ocupadas por toda sorte de veículo, alguns bens precários e inseguros, além de pessoas e animais (vacas sagradas, camelos, elefantes…) O desrespeito às regras de trânsito na Índia que constatei, fizeram-me lembrar de um país da América do Sul, pródigo em lei de todos os tipos, mas absolutamente incompetente para fazer valer a mais simples e nobre de todas as leis: A LEI DA VIDA. Principalmente na Cidade Maravilhosa, como é conhecida em todo o mundo a cidade do Rio de Janeiro capital do estado de mesmo nome.
Aqui, mata-se muito e também de variadas formas. Balas perdidas é uma delas. Mas há uma outra arma poderosa, concebida para outro propósito, mas que usada de forma irresponsável e criminosa por condutores sem escrúpulos vem disputando a liderança nesse podium macabro.
São verdadeiros exterminadores sobre rodas que caçam impiedosamente suas presas desavisadas nas ruas e estradas da cidade.
Às vezes penso que a sociedade considera que as nossas trágicas estatísticas são baixas ou, então, se conformam como se solução não houvesse.
Quantas mortes são aceitáveis por ano? 50 mil? 60 mil? 100 mil? Quando despertarão desse sonho de horror? Quando passarão a valorizar sua própria vida e a vida alheia?
Lembrem-se que não há proteção para esse tipo de ameaça. Todos nós estamos constantemente sujeitos a acidentes graves ou fatais. Basta estarmos na rua.
Cobrem das autoridades com vigor e determinação aquilo que a eles cabe fazer por dever de ofício.
Cobrem fiscalização eficiente e permanente para que posamos ter nosso direito de ir-e-vir garantidos. Seja solidário antes que você, ou alguém bem próximo e querido, torne-se a próxima vítima do trânsito. Diga não à impunidade.
Não à cesta básica como pena alternativa a quem tanta dor causou!
“OS ATENTADOS DE MOMBAIM NÃO ME ASSUSTARAM TANTO QUANTO A INSENSIBILIDADE DA SOCIEDADE BRASILEIRA”.
*Fabricio Diniz, falecido em março de 2003 na Avenida das Américas junto com duas amigas, todos sentados no banco traseiro de um automóvel Peugeot conduzido por Marcelo Kijak, único responsável pela tragédia e hoje foragido da justiça e procurado pela INERPOL no mundo inteiro.