Estado de São Paulo – 19/10/10
Uma análise feita com nove veículos vendidos na América Latina mostra que eles não oferecem segurança completa para motoristas e passageiros e têm um baixo grau de proteção às crianças – mesmo aquelas transportadas em cadeirinhas próprias no banco de trás.
As análises marcam a estreia, na região, dos trabalhos do Programa de Avaliação de Carros Novos para a América Latina, o Latin NCAP, representado no Brasil pela associação de consumidores Proteste. Atualmente, o programa promove avaliações semelhantes na Ásia, na Austrália, na Europa e nos Estados Unidos.
Um ano de grandes recalls
Cada veículo foi submetido a uma colisão frontal, a uma velocidade de 64 quilômetros por hora (km/h), contra um obstáculo deformável. O objetivo era simular uma batida contra outro automóvel. Passaram pelos testes três carros produzidos especificamente para o mercado latino-americano (Gol, Palio e Peugeot 207), dois já testados pelo Euro NCAP (Corolla e Meriva) e um veículo importado e colocado no mercado sem adaptação (o chinês Geely, que não é vendido no Brasil).
Nenhum deles obteve nota máxima nos testes. Mesmo os veículos equipados com airbags oferecem riscos de lesões – em alguns casos, a carroceria não consegue absorver impactos mais fortes. Os testes constataram ainda que o uso da cadeirinha para transporte de crianças – que este ano se tornou obrigatório no Brasil – nem sempre elimina o risco. Foram constatados problemas no encaixe e instruções de instalação insuficientes.
O modelo Corolla recebeu a maior nota no teste: quatro das cinco estrelas possíveis na segurança para ocupantes adultos. Recebeu apenas uma estrela, no entanto, no caso das crianças. O pior desempenho foi do Geely, que não obteve nenhuma estrela na segurança para adultos.
Mudanças. Coordenador do Latin NCAP, o belga Jean-Marie Mortier aponta a necessidade de os veículos serem equipados com mais dispositivos de segurança, como um sistema específico para fixar as cadeirinhas (aqui, elas são presas no cinto traseiro). Os airbags só serão obrigatórios no Brasil a partir de 2014.
O perito do Instituto de Criminalística do Rio Grande do Sul Rodrigo Kleinubing, especialistas em acidentes de trânsito, acredita que os resultados evidenciam a necessidade de uma certificação rigorosa dos componentes. “O governo precisa assumir essa função”, diz.
ANFAVEA
Em nota, a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) argumenta que as montadoras cumprem integralmente os requisitos legais de produção e comercialização de veículos. “Com relação a testes comparativos de produtos comercializados em mercados diferentes, portanto, com exigências legais diversas, deve-se ponderar as avaliações, sob pena de realizar-se uma análise equivocada com relação ao desempenho de cada produto.”