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Jornal de Brasília – DF – 20/10/2010

Despesas envolvem desde o atendimento médico ao custo previdenciário

Mais de R$ 46 milhões é o valor do gasto que o Governo do Distrito Federal arcou com as mortes em acidentes de trânsito só este ano. O número é uma estimativa feita por meio de um levantamento realizado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), que calcula em R$ 182 mil o custo de uma vítima fatal no trânsito para o governo brasileiro. O custo deve ser ainda maior, já que para cada vítima com ferimentos leves o Ipea calcula um gasto de mais de R$ 8 mil e, para vítimas com ferimentos graves, o valor sobre para mais de R$ 47 mil. Até julho deste ano, o DEPARTAMENTO DE TRÂNSITO do DF já registrou mais de 250 mortes nas vias brasilienses entre ciclistas, pedestres, passageiros, motociclistas e condutores.

Nacionalmente, as cifras são ainda mais assustadoras. Calcula-se que o número de vítimas fatais em rodovias brasileiras chega a ser equivalente à queda de um avião comercial por dia, sem sobreviventes. São cerca de 38 mil pessoas mortas no trânsito por ano.”A sociedade não chega a perceber isso tão sensivelmente porque os acidentes estão espalhados pelo País inteiro”, comenta Marcelo Piancastelli, diretor de Estudos Regionais e Urbanos do Ipea e responsável pelo estudo. Em média, o gasto total chega a mais de R$ 6 bilhões aos cofres públicos. Segundo o diretor, os números são responsáveis por quase um terço do orçamento destinado ao Sistema Único de Saúde. O estudo leva em consideração todo o aparato estatal que é mobilizado em torno de uma vítima de trânsito. Os custos vão desde as despesas médicas de internação e o atendimento no local de ambulâncias, bombeiros e policiais, até a perda econômica para o País das horas não trabalhadas e os gastos previdenciários, vindos do seguro obrigatório DPVAT, que garante às vítimas o reembolso de despesas, e da Previdência Social, no caso de ser necessário o afastamento temporário ou definitivo. Danos materiais causados à propriedade pública e privada e custos institucionais com processos judiciais e atendimento

A pesquisa foi realizada por meio de entrevistas individuais com centenas de pessoas envolvidas em acidentes de trânsito por todo o País e os valores foram contabilizados desde o momento do acidente até 30 dias depois. Segundo Marcelo Pian-castelli, essa é a segunda maior causa de mortes no Brasil. “Com o aumento da frota de veículos e a fiscalização lenta, temos estimativas de que esse número deve aumentar. Não terá orçamento do Ministério da Saúde que segure esse valor”, conclui.

Álcool é o maior vilão

Um estudo da Associação Brasileira de Medicina de Tráfego, em 2005, concluiu que 42,8% das vítimas fatais de acidentes de trânsito no Distrito Federal apresentavam níveis de álcool no sangue acima do permitido pela lei brasileira. Os valores, embora dosados em cadáveres, permitiu que os especialistas inferissem que o álcool contribuiu, em grau variável, com a morte da vítima. O maior percentual foi encontrado entre as vítimas de capotagem, 57,7% estavam alcoolizadas. No entanto, os níveis mais altos de alcoolemia ocorreram em vítimas de atropelamento.

Segundo Silvain Fonseca, diretor de Segurança de Trânsito do DETRAN, hoje, quase 60% dos acidentes de trânsito fatais no Distrito Federal são causados por motoristas alcoolizados. Ele conta que esse é o grande foco das atividades de fiscalização do órgão. “Algumas vezes chegamos a nos surpreender com a variedade das pessoas que são pegas nas blitze. Encontramos desde adolescentes até senhoras de 50 anos.”

Somente neste fim de semana, a Operação Bafômetro do DETRAN multou 29 condutores sob o efeito do álcool. Três deles foram encaminhados à delegacia porque o teste do bafômetro acusou concentração de álcool igual ou superior a 0,3 miligramas por litro de ar expelido dos pulmões. De acordo com dados do DETRAN, até setembro de 2009 foram quase 5 mil motoristas autuados por dirigir sob a influência do álcool. O número contribuiu para a diminuição de quase 17% dos acidentes fatais ocorridos após o primeiro ano de aplicação da lei.

Dor que fica para sempre

Todos os números apontados pelas pesquisas não conseguiriam, no entanto, mensurar o sofrimento de Dulce Gonçalves da Fonseca. Ela perdeu a nora Ana Paula, com 22 anos, e o neto Lucas, de apenas quatro anos, em um acidente de trânsito ocorrido em junho de 2008. Na ocasião, um motorista de um caminhão que carregava ossos para confecção de sabão, trafegava alcoolizado pela contramão em uma via de Santo Antônio do Descoberto (GO). O filho de Dulce não teve tempo de desviar e a colisão foi frontal. “O acidente desfigurou a minha família. Por dentro, ele matou muitas mais pessoas. A saudade que sentimos é uma morte sem fim”, emociona-se. No veículo também estava a sogra e o sobrinho de Ana Paula. O menino também não sobreviveu.

Os policiais que estavam no local puderam medir o nível alcoólico do motorista, que chegou a 1,24 g/l. Ele foi condenado a 19 anos e seis meses de prisão, que cumpre desde o dia do acidente graças ao esforço de Dulce. “O juiz queria soltá-lo por falta de provas.

Consegui oito testemunhas que ajudaram meu filho a comprovar o que ocorreu. Quero que ele fique na cadeia e pague pelo que fez. Mas um dia ele será solto e poderá rever sua família. A minha dor é perpétua.”

A família não se recuperou da perda e Dulce condena os motoristas que conduzem seus veículos sob o efeito do álcool. “Nossa família está mutilada. Tiraram toda a esperança e a perspectiva de uma família jovem, simplesmente pelo prazer de beber”, desabafa. Ela finaliza o curso de Direito em uma universidade particular e objetiva continuar a ajudar outros parentes de vítimas fatais do trânsito no DF.

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